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Baiana volta a Sorrir - Baianas de Coqueiro Seco​-​AL

by Baianas de Coqueiro Seco-AL

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Mestra Nilza 02:43
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about

BAIANAS

Telma César

A brincadeira

Grupo de mulheres vestidas com longas saias rodadas, muitos balangandãs no torso e divididas em dois cordões - um azul e o outro encarnado. Têm ao centro uma mestra que direciona o grupo apitando, cantando versos que antes eram improvisados e que hoje são relembrados; já não se improvisa mais. Versos que falam de amor, de coisas do dia a dia, de casos da história ou de estórias. Contam que algumas mestras se desafiavam em versos, sendo a Mestra Terezinha uma das mais famosas. Cantava ela:

Mestra Terezinha canta em tom de moda
toda mestra roda, minha rima é de amargar
ô meu baianá responda essa peça
que é p’ra outra mestra ver e não poder pegar

Dançam ao som de zabumba, ganzá e, em alguns grupos, também de um tarol, no ritmo da marcha ou do abaianado. A coreografia simples se estrutura na sincronicidade dos movimentos para os lados e em deslocamento das filas/cordões das dançarinas, que se locomovem enquanto a mestra apita. Neste momento, o som é apenas o da banda, sem o acompanhamento do canto.
Há grupos onde, além da mestra e das baianas, encontra-se também a contra-mestra e a diretora, ambas ao centro, entre as duas fileiras. Uma de cada lado da mestra.

A descrição acima dá conta da configuração atual da brincadeira. Abelardo Duarte (1974 P.359) enumerou uma série de afinidades das baianas com os antigos reisados, como, por exemplo, os personagens comuns: Mateus, Mestres, Contra-Mestres, Embaixadores etc. Cita também similaridades com relação ao figurino na utilização de fitas nos chapéus e espelhos em peitorais. Com relação à transformação neste figurino diz ele: “Já aparecem as figuras femininas, as ’baianas’, transformadas em ‘pastoras’ modernas (tipo Sul), pastoras criadas por Ataulfo Alves, no Rio (...) o que em verdade se oferece como uma deformação, sem dúvida imposta pela época. É a ‘bossa nova’ “ (op. cit. P.360). Além desses aspectos refere-se ainda, o mesmo autor, a elementos musicais não mais presentes atualmente como a denominação “pancada motor”, antes utilizada para designar a vivacidade rítmica presente na música das Baianas; além do uso de instrumentos como pífanos e, por vezes, também a cuíca.

As Baianas alagoanas vieram de Pernambuco

Tal afirmação parece “truncada”, a princípio, mas aponta para o trânsito percorrido pela brincadeira das baianas encontrada em Alagoas, cujo trajeto geo-histórico parece-nos interessante visitar para um melhor entendimento das atuais configurações da brincadeira.

A princípio, o termo “baiana ” sugere uma indicação de pertencimento ao estado da Bahia, assim como o é de fato: é denominada baiana a mulher que nasce na Bahia. Mas, é fato também, a figura da baiana como de uma mulher que veste longas saias rodadas e se enfeita com mil balangandãs, estando presente em várias danças das tradições populares que integram o grande complexo do samba no Brasil; seja nos desfiles das escolas de samba cariocas, nas sambadas de maracatu ou no samba de matuto, só para citar alguns exemplos.

É deste último, do samba de matuto do sul de Pernambuco, que é oriunda a brincadeira das baianas encontrada em Alagoas. Segundo Théo Brandão (1961:183), as baianas teriam adentrado em Alagoas a partir da primeira década do século XX como club de carnaval passando posteriormente, nas décadas de 1930 e 1940 do mesmo século, à função natalina.

Embora Théo Brandão localize esta passagem da função carnavalesca para a natalina, não irá adentrar nos porquês deste trânsito. Já para Abelardo Duarte, que sobre a matéria se baseia grandemente em Théo Brandão, a origem rural dos grupos de baianas estaria diretamente ligada ao universo dos engenhos e usinas de açúcar, o que, para ele, explicaria a tendência de antigos grupos de baianas em que “as letras dos sambas e peças quase só aludem a usinas” (cf. DUARTE, op. cit. P. 358). Muito provavelmente, a sazonalidade do trabalhador rural canavieiro, entre Alagoas e Pernambuco, colaborou para a circulação desta modalidade de folguedo. Estudos recentes sobre a história cultural da presença negra em Alagoas, mais especificamente aqueles que tratam sobre os temas “da religiosidade afro-brasileira e da cultura lúdica presente nos folguedos e nas festas dos ciclos populares, particularmente no carnaval” (CAVALCANTI, 2006:26), irão nos fornecer subsídios para um melhor entendimento desse processo, que se configura como certo mecanismo de resistência cultural.

Na Maceió da primeira década do século XX (período em que as baianas adentram o estado de Alagoas) a repressão às manifestações da cultura afro-alagoana estava no ápice de sua força. Exemplo maior foi a invasão maciça das casas e terreiros de xangô da cidade, em 1912, episódio que ficou conhecido como “o quebra de 1912” ou “Operação Xangô” (cf. RAFAEL,2004). Para vários autores, os acontecimentos de 1912 acabaram por incidir diretamente sobre as manifestações negro-alagoanas, notadamente aqueles que mais expressavam vinculações com crenças afro-brasileiras (cf. CAVALCANTI, op. cit.). Vale lembrar que no início do século XX os clubs de samba de matuto e baianas eram ensaiados por Babalorixás (Brandão, 1961:183).Talvez resida aí, nesse momento da nossa história, alguma pista para o aparecimento de novos folguedos em Alagoas, como o Guerreiro, originado a partir do sincretismo de elementos dos antigos reisados e dos caboclinhos. Do mesmo modo, encontram-se misturados nas baianas, elementos do pastoril, do coco, do maracatu. José Maria Tenório Rocha (1984:115) entende que as baianas podem ser consideradas uma alagoanização dos maracatus pernambucanos. Não seria uma “ramificação estratégica” do próprio maracatu alagoano que se extinguiu? Ora, foram as manifestações lúdicas embutidas sob a batuta do folclore que puderam subsistir ante aqueles anos de perseguição às crenças e práticas mais africanizadas, mantendo, assim, sutis vínculos de africanidade na cultura popular folclórica do território alagoano, incorporando novas influências, mas, em todo caso, mantendo inequívocos sinais de tratar-se de uma de nossas manifestações culturais afro-alagoanas.

O fato é que os mestres e mestras de baianas, reisados, maracatus, cocos e tantos outros folguedos, são artistas, sensíveis ao seu tempo/espaço de convivência com a realidade da qual fazem parte e na qual movem seus espíritos criativos.


Baiana se quer viver
Tem que quebrar pra Jesus
Ir dançar pelo natal
Vestir azul e encarnado
Fazer samba atravessado
Benzer em nome da cruz
Tem que rebolar batido
Pra esconder o Egito
Que dentro dela ela traz
(Telma César)

Baiana Volta a Sorrir e nós também

O nome do grupo de baianas de Coqueiro Seco “Baiana volta a sorrir”, é bem representativo da história dessa manifestação na referida cidade. Entre os anos de 1958 a 2005 não se ouviu o toque das baianas por lá. Já há algum tempo venho freqüentando a cidade, desfrutando dos ensinamentos dos mestres Cajuza (que Deus o tenha) e Zé Um e da Mestra Luzia, todos integrantes da chegança Silva Jardim. Mas, em todo esse tempo não tinha ouvido falar em baiana em Coqueiro Seco. Foi Renata Mattar, que, em Fevereiro de 2005 descobriu Mestra Dulce, quietinha em sua casa, guardando um repertório musical maravilhoso! A maioria das músicas cantadas por ela eu nunca tinha ouvido nos outros grupos de baianas que eu já conhecia. Ao mesmo tempo, apresentou músicas bem tradicionais, como as encontradas por Théo Brandão (op. cit.) e Alceu Maynard, em Piaçabuçu-Al (1962). A partir daí foi grande a nossa expectativa em ver as baianas de Coqueiro Seco voltarem à ativa.

Em novembro de 2005, Lucimar (a melhor agente cultural que eu já conheci) nos fez sorrir quando deu a grande notícia de que ia “botar a baiana”. No primeiro ensaio das baianas que assisti, lembro-me do impacto em ver aquelas mulheres que eu conhecia, dançando Chegança, vestidas em roupas de marinheiros e generais, dançando ao som do abaianado, rodando suas saias e cantando com uma força estonteante. Foi impossível ficar parada! Foi impossível ficar calada! Penso que nenhuma mulher ficaria, tamanha a energia feminina que emanava daquele grupo.

A baiana de Coqueiro Seco tem a particularidade de utilizar o tarol em seu instrumental, o que lhe confere uma sonoridade diferenciada dos demais grupos de Alagoas. Além disso, a musicalidade que é tão forte em Coqueiro Seco, já conhecida pelo grande número de bandas na pequenina cidade e pelo afinado coro de vozes do Pastoril e da Chegança, confere algo de muito especial a esse grupo que impulsiona ao movimento quem está a assisti-las ou a ouvi-las.

Tudo isto não poderia ficar restrito ao universo de Coqueiro Seco e para nossa alegria, a primeira vez que a baiana “saiu”, tivemos o privilégio de tê-las se apresentando na estréia do show do nosso projeto musical que integrou a programação do Festival de Música Independente – FMI, em Maceió.

Esse projeto musical que eu e Renata realizamos em 2005, foi compartilhado também por Alfredo Bello que nos traz, com sua iniciativa de produzir este CD através de seu selo “Mundo Melhor”, a possibilidade de mais um sorriso que agora será compartilhado por todos, e, esperamos, pelo maior número possível de pessoas! Afinal, esse é o primeiro CD de Baianas.

Desde a gravação do compacto em vinil n° 21 da coleção Documento Sonoro do Folclore Brasileiro da Funarte, em 1977, que registrou as baianas da Mestra Terezinha, tivemos apenas duas faixas das Baianas Mensageiras de Santa Luzia, da Mestra Maria José Silvino, na Coletânea Música do Brasil de 2000. Mestra Maria José Silvino já se foi e sua maestria merecia mais, assim como tantas outras mestras já se foram. Mestra Dulce, Mestra Luzia e todas as baianinhas de Coqueiro Seco permanecem e permanecerão na memória e nos sorrisos dos que lhes ouvirão e, com certeza, desfrutarão de grande alegria! Alegria para um mundo melhor!

Referências

BRANDÃO Théo. Folguedos Natalinos de Alagoas. Maceió:DAC, série Estudos
Alagoanos, Caderno n° IX, 1961, 213p.
CAVALCANTI, Bruno César. “Bons e Sacudidos – o carnaval negro e seus
impasses em Maceió” In CAVALCANTI, B. C. ; FERNANDES, C. S.
e BARROS, R.R. de A. (orgs.) Kulé-Kulé: visibilidades negras.
Maceió: EDUFAL, 2006, pp.26-40.
DUARTE, Abelardo “Baianas” In Folclore Negro das Alagoas.
Maceió: Departamento de Assuntos Culturais, 1974, pp. 355-369.
MAYNARD, Alceu Araújo. Esforço do Folclore de uma Comunidade.
Prefeitura do Município de São Paulo. 1962.
RAFAEL, Ulisses Neves. “Xangô Rezado Baixo: um estudo da perseguição
aos terreiros de Alagoas em 1912”. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais,
2004. Tese de Doutorado, 262p.
ROCHA, J. Mª. Tenório - Folguedos e Danças de Alagoas: Sistematização e
Classificação. Editado pela SEED do Estado de Alagoas, 1984.

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released July 14, 2010

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Selo Mundo Melhor record label was born in 2004. The label's owner and leader - musician, music producer and researcher - Alfredo Bello has been recording the music of Brazilian oral tradition communities for 17 years. Besides Brazilian oral tradition music, Selo Mundo Melhor also got an experimental music. In total, 32 titles were released. It includes DJ Tudo e sua Gente de Todo Lugar. ... more

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